ON THE ROAD TO THE LOST HIGHWAY
Aceitei trabalhar em uma contagem de tráfego na região de Luis Alves (terra da melhor cachaça do Sul do Brasil) para meu pai que estava coordenando um projeto da empresa onde trabalha, a Esteio Engenharia e Aerolevantamentos. O trabalho de contagem de tráfego (como já havia citado em outro post) era maçante.
Quando contei para alguns amigos, eles logo imaginaram que isso era feito com aparelhos com botões que registrariam os veículos quando acionados. Hah! Como são inocentes... É tudo na base da lapiseira e um par de folhas de papel. Cada folha uma convenção para cada tipo de veículo, definidos por peso e número de eixos e uma tabela de estatística com a divisão dos veículos contados para cada hora.
Horário de trabalho: das 6:00 às 19:00. Pauleira!
A viagem foi cansativa, pitoresca e instrutiva. Me tornei um "alien". Era impossível passar por qualquer lugar sem que todos olhassem para mim. Gostaria de ter levado uma câmera fotográfica para registrar os locais e seus "nativos". Mas, como fui para trabalhar (se pode chamar aquilo de trabalho) não deu tempo nem para separar uns cd's e pegar o DiscMan.
DIA 1 - Arrumar os últimos itens para a viagem. No "Kit de Sobrevivência", um boné (tipo "militar") e um colete (tipo "fotógrafo"): DiscMan e cd's (Rammstein, Fear Facrory, Front Line Assembly, Scorn e Nitzer Ebb), pilhas Duracell (não encontrei alcalinas Panasonic), filtro solar, minha medicação diária (the "red pills"), Lisador (para eventuais ataques de dor-de-cabeça), Ibupril (dores em geral), Hipoglos (nunca se sabe...) e Merthiolate (só faltou Band-Aid).
- 14:30 PM. Pé na estrada! Foram duas horas e meia bem tranqüilas. Fim da tarde chegamos em Luis Alves. Típica cidade pequena, onde todos se conhecem, e onde é fabricada a melhor cachaça do Sul do Brasil. Em frente à prefeitura seria o Ponto P1 de contagem de tráfego. Ali um dos funcionários da Esteio fica por conta própria (e se deu bem). Deve ter até jantado na casa do prefeito...
Seguimos para o Ponto P2, em Gaspar. No caminho, vários alambiques, pequenos riachos convidativos e algumas construções que devem estar ali há uns 100 anos. Foi uma pena não ter tido tempo pra fotografar estes locais. No "P2", onde fiquei, tudo é visto rapidamente. Local simples, sem segredos e sem asfalto. Bem no meio de "lugar nenhum".
Seguimos para o Posto P3. Para chegar lá atravessamos outra cidezinha: Belchior que, segundo os nativos, pronuncia-se "beuxiór", mesmo (não é como o nome do cantor). Bom, lá tinha até uma "Vidio Locadora" (como estava escrito na entrada do estabelecimento), um lugar muito
cool. Seu horário de funcionamento é das 9:00 às 13:00. Tré chic!
O "P3" ficava na BR-470. Muito movimentado e com o tráfego confuso (azar para quem ficou neste ponto). Tudo acertado. Nos dirigimos para Blumenau para encontrar um hotel. Depois de rodar por uns 40 minutos no pior trânsito do mundo, encontramos um lugar legal próximo ao "Centro Universitário". Belas acadêmicas vem e vão. Mas, ainda sou uma criatura estranha para os nativos. O hotel é simples, sem grandes atrativos na fachada, e fomos atendidos pelo clone do Bill Gates. Rererere! O cara era tão parecido que tive vontade de surrá-lo e enchê-lo de chutes para vingar todas as panes que deram no meu PC nos últimos 3 anos... Mas, deixei o cara viver, afinal, ele descolou quartos bons para todos.
TV a cabo, ar-condicionado (Obrigado, Jesus!) e frigobar forrado. Tudo por conta da empresa... Muahahahahahahahaha!!! O meu pai encontrou uma calcinha no banheiro. Alguma jovem acadêmica deve ter saído às pressas. Rererere! Depois de instalados, fomos em busca de um local para toda a equipe jantar. Fomos então jantar na churrascaria
"Na Moita". Os colunáveis de Blumenau devem freqüentar o lugar. Chequem o link e riam.
DIA 2 - 5:00 AM. Hora de levantar, juntar o "kit de sobrevivência" e ir para o "P2". Um sono desgraçado, sem café da manhã e um torcicolo daqueles! Travesseiros de hotéis sempre são uma lástima. Isso porque eu consegui dormir apenas umas 3 horas. E o clima... Quente demais! A umidade do ar devia ser de uns 96%. Era só pensar e você estava molhado como se tivesse dormido na chuva. Para melhorar, o "P2" era num trecho sem asfalto. Eu e meu colega de contagem respiramos pó e cuspimos tijolos durante três dias naquele local. E, se isto não fosse o bastante, descubro um problema no DiscMan. FECK! No music! Iniciamos a contagem pensando em uma grande e deliciosa xícara de café com leite e um pedaço de pão com manteiga... Lá pelas 9:00 horas surge meu pai, vindo me buscar para tomar o café da manhã no hotel (Deus existe, pessoal!). Voltando ao posto P2 reassumo a contagem e cubro a função do meu colega (ele também merecia tomar café, né?). Meu pai ficou ali e ficamos batendo papo e rindo dos nativos. Almoçamos na estrada, o que foi meio "punk". Comida de postos de gasolina são extremamente gordurosas e pesadas. Poucas opções e muitas calorias. Tive pena do meu fígado e do meu pâncreas (e lembrei da conseqüente dor-de-cabeça que teria).
Enfim, contamos carros, caminhões (leves e pesados) e várias motos durante o dia todo. Aliás, motos são muito comuns por lá. Andam nelas feito doidos, sem capacete e sem camisa, trajando os clássicos calções de futebol e chinelos "raider". Até que faz sentido:
Riders de "raiders" em suas poderosas motos CG 125... Rarararararara!
Para distrair, xingávamos quem passava correndo pra levantar poeira sobre nós. No fim da tarde choveu e conseguimos nos sentir humanos e um pouco mais vivos (e menos empoeirados). No hotel, durante o banho, lembro-me da cor original da minha pele. Podia jurar que eu tinha a pele "ocre".
DIA 3 - Dormi pouco, novamente. Levanto na mesma hora, mesma rotina e sem chuva... E uma queimadura de sol no braço direito que fazia ele todo doer (dá-lhe, analgésicos!). Algumas coisas estranhas aconteceram. Uma cobra atropelada (provavelmente, durante a madrugada) foi encontrada à beira da estrada e logo virou instrumento de diversão de dois matutos que passavam de moto. A esta altura já éramos notícia em toda a região. Causamos desconfiança e medo nos nativos. Muahahahahahahaha! Uma pena não termos nenhum aparelho de som disponível. Queria tê-los aterrorizado um pouco mais tocando meus cd's. Rerererere! Mas minha aparência parecia ser suficiente. À noite, quando fomos jantar, o dono da lanchonete (o
Hamburgão) tentou nos passar a perna negando a nota fiscal do que consumimos. Isso seria um problema para meu pai, que não teria como provar o gasto e teria que arcar com o custo do jantar de 5 pessoas (afinal, ele era o coordenador da equipe). Fui dormir pensando em maneiras de "embotinar" o dono daquele lugar. Eu me ofereci diversas vezes para acompanhá-lo durante este acerto "burocrático", mas ele preferiu acertar as coisas com calma no dia seguinte acompanhado de um engenheiro que fazia parte da equipe. Parece que rolou um pouco de pressão psicológica e blefes aliadas de simpatia e o carinha arranjou uma nota de um estabelecimento de alguém da família e tudo ficou certo. Acho que o Seu Bruno deveria ser político... Meu plano era mais simples: Ia quebrar tudo e dar um puta preju naquele cahorro!
Aliás, quem estiver em Blumenau, não vá ao Hamburgão! O dono é um trambiqueiro, careiro e sonegador de impostos. Sinceramente, preferia ter ido a um McDonald's. E olhe que eu odeio o McDonald's (a empresa, que fique bem claro).
OBS.: Aqui em Curitiba, onde hoje é o McDonald's Cabral funcionava uma lanchonete chamada "Hamburgão".
DIA 4 - Heavy Gear Work. A contagem deveria ser contínua neste último dia de trabalho, uma quinta-feira abafada e nublada. Duas equipes se revezando, começando das 0:00 às 24:00. Consultando o canal do Weather Channel descobri que este dia seria o mais quente da semana (e foi). Tratei de conversar com o meu pai e arranjar os melhores turnos. Depois perguntei aos outros integrantes da equipe quem estava disposto a me acompanhar. Escolhi o segundo e o último turnos: das 6:00 às 12:00 e das 18:00 às 24:00. Eram os horários com as temperaturas mais brandas... Comecei meu turno como nos outros dias e segui a rotina. Durante a tarde fui ao shopping (cujo nome, não lembro) para almoçar (muito bem, por sinal) e passei o horário crítico dentro de um ambiente com a temperatura controlada e admirando belas descendentes germânicas. No hotel, uma soneca de fim da tarde e estava pronto para o último e o mais agradável dos turnos. Pouco movimento e uma garoa fina impedindo que a poeira da estrada levantasse. Jantei "Na Moita" de novo (rerere!) e terminei o turno ansioso por uma noite de sono.
DIA 5 - Checar, empacotar e rodar. Na manhã da sexta-feira, levantamos mais tarde (e não dormi nada) e acabamos nos atrasando para cair na estrada. A esta altura, estava cagando e andando. Já estava feliz só de pensar que estava voltando pra casa.
Foi interessante conhecer pessoas que ligadas a outras áreas, como a Engenharia Civil. Descobri que entendo alguma coisa de tratores, niveladores e outras máquinas pesadas como bulldozers, scrappers e "patrolas". Talvez porque sou um fã do design das máquinas Caterpillar.
Dica de segurança: quando viajar, verifique se seu DiskMan funciona corretamente.