20080325

AINDA SOBRE O CHINA

O Manoel, responsável pelo livro "A[Des]construação da Música na Cultura Parananse", escreveu um texto sobre o distinto que merece o destaque:
Olá, amigos quero lembrar sobre um amigo jornalista que faleceu neste fim de semana. China Meneghetti faleceu discretamente durante um feriado, é bem dele, era muito discreto detestava os paredões de pessoas, preferia sua cozinha, o mercadorama da sete de setembro e bares pequenos, preferencialmente undergrounds, onde ainda existia alguma originalidade, conversas inusitadas e luzes apagadas. Aliás China, detestava holofotes, isso apenas para lembrar que uma foto em jornal, ou em um site, apenas com comentários superficiais não podem explicar quem era esse homem. China era jornalista, competente, porem pouco produtivo e nunca reconhecido profissionalmente. Mas quem disse que o China queria outra coisa, são caminhos pessoais que quando percorridos não tem volta, pertencem apenas a ele, que sabia o que lhe doía! Nos deixou, nesse mundo rodeado de imbecis… Graças a Deus, nenhum deles era seu amigo. China não era um numero e não se comportava como um, por isso seguiu por outra rota, sem se preocupar com propriedades e sucesso. Quem disse que ele ligava pra isso! Ao contrário, o China é muito mais do que será dito, pois ele era uma grande fonte do jornalismo cultural paranaense, sabia mais que todos, antes e melhor. Em tempos em que a Internet ainda não era popular, China ouvia seu radinho nas ondas curtas com noticias da música internacional transmitidas pela BBC de Londres, e a noite, alimentava meia cidade com noticias fresquinhas que só chegariam aos veículos locais muito depois. China antecipou tendências, demonizou certezas, batizou bandas, contou histórias, re-inventou bares e mitos. Associado ao nome do Sheena Bar virou marca (detestava! – Meu nome é China, com C.H.I.N.A, e não com S.H.E.E.N.A), de fato foi ele quem deu o ponta pé inicial para o Sheena Bar, mas o que isso importa…

O que mais vão lembrar, é que o China trocou o dia pela noite e que bebia muito (Acho que não bebia muito). É fácil ver a superfície! Mas ninguém sabe sobre o verdadeiro China, mas se não sabem é porque não perguntaram, pois ele responderia. É difícil avaliar uma vida, mais difícil para um amigo lembrar que ele não deixou filhos, não plantou um arvore, e afinal ele não deixa nenhuma obra, nenhum livro e apenas alguns poucos artigos. Não deixou nada? Como assim não deixou?! Qual amigo do China que pode dizer que nunca aprendeu alguma coisa com ele!? O China não era de holofotes, preferiu influenciar fatos de nossa história e nos ensinou muito, suas experiências ficam…

Quando o pai do China faleceu, fizeram uma placa com uma homenagem no Country Club. O China detestava o Country Club… Penso na placa em homenagem ao China, ela está em minha mente, pois o China não gostava de homenagens. Apenas lembranças, de coisas que não podem ser explicadas. Como por exemplo o que representa e o que sentiu quando comprou seu primeiro toca discos estereofônico e colocou Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, no final dos anos 60. Desde aqueles tempos, quando descobriu o estéreo, China se transformou em testemunha ocular dos fatos, atento a detalhes, Left-Right, viu os Metralhas Beatles Again anunciar seu fim no clube Curitibano em 1970, e anunciar (em meio a sons que pareciam Pink Floyd) que daquele dia em diante se chamaria “The Brain” (nunca mais se ouviu falar disso!). No mesmo ano viu Os Mutantes, e não parou mais de ouvir e ver todas as novas bandas dos últimos 40 anos. E do Batuque do China? BATUQUE DO CHINA… Ninguém vai saber sobre essa coisas e muito menos a importância que tem. Mas o China, não era só jornalista, era uma pessoa integra e de bom coração, sempre tinha uma boa conversa, alias suas palavras devem ser buscadas antes que se percam, pois China era um grande inventor de aforismos. Sabia tudo sobre tribos urbanas, história, esportes, música, e tantos outros assuntos. Em sua genialidade e simplicidade não buscou reconhecimento, ao invés preferia dividir generosamente suas palavras em mesas de bar. Por isso ele era a “fonte” para os jornalistas, não precisava dos holofotes, pois brilhava no escuro.
do amigo, Manoel J. de Souza Neto

Em tempo, nem tenho muito o que acrescentar... Só queria dizer que, mesmo não sendo tão chegado do China, tivemos altos papos sobre os mais variados assuntos que qualquer um possa imaginar. Lembro de ter contado a ele sobre minha "novela pessoal" do macroadenoma hipofisário e ele era tão bem informado (ou mais) quanto eu, que atravessei todo o processo. Aliás, ele vivia informação e informava. Tudo regado à uma boa conversa e uma(s) cervejinha(s). E é esse tipo de pessoa que fará falta em meio a esse mar de parvos que nos cerca.
Curitiba ficou mais anêmica.

I Don't Want to Grow Up - Tom Waits

20080324

LUTO

Faleceu neste domingo de Páscoa por volta das 18:00, Vicente "China" Meneghetti, figura lendária do rock curitibano.


Foto by Digão.

All the Young Punks (New Boots and Contracts) - The Clash

20080323

FELIZ PÁSCOA!

Espero sinceramente que o espírito capitalista desta época do ano leve ovos bem grandes a todos meus amigos católicos, luteranos, budistas, zoroastras, espíritas, "macumbeiros", agnósticos e ateus!


Take Five - Dave Brubeck Quartet